Resto/462e

" Tu és do sexo das formas sonhadas, do sexo nulo das figuras(...). Mero perfil às vezes, mera atitude outras vezes, outras gesto lento apenas – és momentos, atitudes, espiritualizadas em minhas.
Nenhum fascínio do sexo se subentende no meu sonhar-te, sob a tua veste vaga de madona dos silêncios interiores. Os teus seios não são dos que se pudesse pensar em beijar-se. O teu corpo é todo ele carnealma, mas não é alma é corpo. A matéria da tua carne, não é espiritual mas é espírito. És a mulher anterior à Queda, escultura ainda daquele barro que(...) paraíso.
O meu horror às mulheres reais que têm sexo é a estrada por onde eu fui ao teu encontro. As da terra, que para serem (...) têm de suportar o peso movediço de um homem – quem as pode amar, que não se lhe desfolhe o amor na antevisão do prazer que serve o sexo (...)? Quem pode respeitar a Esposa sem ter de pensar que ela é uma mulher noutra posição de cópula... Quem não se enoja de ter mãe por ter sido tão vulvar na sua origem, tão nojentamente parido ? Que nojo de nós não punge a idéia da origem carnal da nossa alma – daquele inquieto (...)corpóreo de onde a nossa carne nasce e, por bela que seja, se desfeia da origem e se nos enoja de nata."