Resto 82/d
"Ah,não há saudades mais dolorosas do que as das coisas que nunca foram! O que eu sinto quando penso no passado que tive no tempo real, quando choro sobre o cadáver da vida da minha infância ida,...isso mesmo não atinge o fervor doloroso e trémulo com que choro sobre não serem reais as figuras humildes dos meus sonhos, as próprias figuras secúndárias que me recordo de ter visto uma só vez, por acaso, na minha pseudovida, ao virar uma esquina de minha visionação....Oh, o passado morto que eu trago comigo e nunca esteve senão comigo! As flores do jardim da pequena casa de campo e que nunca existiu senão em mim...tudo isto, que nunca passou de um sonho, está gravada em minha memória a fazer de dor e eu, que passei horas a sonhá-los,passo horas depois a recordar tê-los sonhado e é, na verdade, saudade que eu tenho, um passado que eu choro, uma vida real morta que fito, solene no seu caixão."