Resto/061

Chove muito, mais, sempre mais... Há como que uma coisa que vai desabar no exterior negro...

Todo o amontoado irregular e montanhoso da cidade parece-me hoje uma
planície, uma planície de chuva. Por onde quer que alongue os olhos tudo é cor de chuva, negro pálido. 
Tenho sensações estranhas, todas elas frias. Ora me parece que a paisagem essencial é bruma, e que as casas são a bruma que a vela.

Uma espécie de anteneurose do que serei quando já não for gela-me corpo e alma. Uma como que lembrança da minha morte futura arrepia-me de dentro. Numa névoa de intuição, sinto-me, matéria morta, caído na chuva, gemido pelo vento. E o frio do que não sentirei morde o coração actual.