Resto 214/a

" Só uma vez fui verdadeiramente amado. Simpatias, tive-as sempre, e de todos. Nem ao mais casual tem sido fácil ser grosseiro ou ser brusco, ou ser até frio para comigo... Nunca tive paciência ou atenção do espírito para sequer desejar empregar esse esforço.
A princípio de observar isto em mim, julguei - tanto nos desconhecemos - que havia neste caso da minha alma uma razão de timidez. Mas depois descobri que não havia; havia um tédio das emoções, diferente do tédio da vida, uma impaciência de me ligar a qualquer sentimento contínuo, sobretudo quando houvesse de se lhe atrelar um esforço prosseguido.Para quê? pensava em mim o que não pensa. tenho subtileza bastante, o tacto psicológico suficiente para saber o «como»; o «como do como» sempre me escapou. A minha franqueza da vontade de ter vontade. Assim me sucede na inteligência, e na vontade. Assim me sucedeu nas emoções como me sucede na inteligência, e na vontade mesma, e em tudo quanto é vida."