" Quem quisesse fazer um catálogo de monstros, não teria mais que fotografar em palavras aquelas coisas que a noite traz às almas sonolentas que não conseguem dormir. Essas coisas têm toda a incoerência do sonho sem a desculpa incógnita de estar dormindo...Umas vezes são vermes, nauseantes à própria alma que os afaga e cria; outras vezes são espectro, e rondam sinistramente coisa nenhuma; outras vezes, ainda, emergem cobras dos recôncavos absurdos das emoções perdidas.
Lastro do falso, não servem senão para que não sirvamos. São dúvidas do abismo, deitadas na alma, arrastando dobras sonolentas e frias. Duram fumos, passam rastros, e não há mais que o haverem sido na substância estéril de ter tido consciência deles. Um ou outro é como uma peça íntima de fogo-de-artifíco: faísca-se um tempo entre sonhos, e o resto é a inconsciência da consciência com o que vimos.
Nastro desatado, a alma não existe em si mesma. As grandes paisagens são para amanhã, e nós já vivemos."