Resto 219/b

" Perco-me se me encontro, dúvido se acho, não tenho se obtive. Como se passeasse, durmo, mas é, em si mesma, uma grande insónia, e há um estremunhamento lúcido em tudo quanto pensamos e fazemos...Tenho uma indigestão na alma...Tudo dorme e é feliz, menos eu. Descanso um pouco, sem que ouse que durma. E grandes cabeças de monstros sem ser emergem confusas do fundo de quem sou. São dragões do Oriente do abismo, com línguas encarnadas de fora da lógica, com olhos que fitam sem vida a minha vida morta que os não fita.
A tampa, por amor de Deus, a tampa! Concluam-me a inconsciência e vida! Felizmente, pela janela fria, de portas desdobradas para trás, um fio triste de luz pálida começa a tirar a sombra do horizonte. Felizmente o que vai raiar é o dia. Sossego, quase, do cansaço do desassossego. Um galo canta, absurdo, em plena cidade! O dia lívido começa no meu vago sono. Alguma vez dormirei...Minhas pálperas dormem, mas não eu. Tudo, enfim, é o Destino."