Resto 418/b

Nunca encarei o suicídio como uma solução, porque eu odeio a vida por amor a ela. Levei tempo a convencer-me deste lamentável equívoco em que vivo comigo. Convencido dele, fiquei desgostoso, o que sempre me acontece quando me convenço de qualquer coisa, porque convencimento é em mim sempre a perda de uma ilusão. Matei a vontade a analisá-la. 

Quem me tornara à infância antes da análise, ainda que antes da vontade! Nos meus parques, sono morto, a sonolência dos tanques ao sol-alto, quando os rumores dos insectos chusmam na hora e me pesa viver, não como uma mágoa, mas como uma dor física por concluir. 

Palácios muito longe, parques absortos, a estreiteza das áleas ao longe, a graça morta dos bancos de pedra para os que foram – pompas mortas, graça desfeita, ouropel perdido. Meu anseio que esqueço,
quem me dera recuperar a mágoa com que te sonhei."