" A fadiga de sermos o objecto do fardo das emoções alheias!...A fadiga (de) se nos tornar a existência uma coisa dependente em absoluto de uma relação com um sentimento de outrem! A fadiga de , em todo o caso, ter forçosamente que sentir, ter forçosamente, ainda que sem reciprocidade, que amar um pouco também!
Passou por mim, como até mim veio, esse episódio na sombra. Hoje não resta dele nada, nem na minha inteligência, nem na minha emoção. Não me trouxe experiência alguma que eu não pudesse ter deduzido das leis da vida humana cujo conhecimento instintivo albergo em mim porque sou humano. Não me deu nem prazer que eu recorde com tristeza, ou pesar que eu lembre com tristeza também.
Tenho a impressão de que foi uma coisa que li algures, um incidente sucedido a outrem, novela de que li metade, e de que a outra metade faltou, sem que me importasse que faltasse, pois até onde a li estava certa,e, embora não tivesse sentido, tal era já que lhe não poderia dar sentido a parte faltante, qualquer que fosse o seu enredo.
Resta-me apenas a gratidão a quem me amou. Mas é uma gratidão abstracta, pasmada, mais da inteligência do que de qualquer emoção. Tenho pena que alguém tivesse tido pena por minha causa; é disso que tenho pena, e não tenho pena de mais nada.Não é natural que a vida me traga outro encontro com as emoções naturais...É possivel que sinta menos;também é possivel que sinta mais.Sobre as emoções tenho curiosidade, sobre os factos, quaisquer que venham a ser, não tenho curiosidade alguma."