Resto 215
" Não se subordinar a nada - nem a um homem, nem a um amor, nem a uma ideia, ter aquela independência longínqua que consiste em não crer na verdade, nem, se a houvesse, na utilidade do conhecimento dela - tal é o estado em que, parece-me, deve decorrer, para consigo mesma, a vida íntima intelectual dos que não vivem sem pensar. Pertencer - eis a banalidade. Credo, ideal, mulher ou profissão - tudo isso é a cela e as algemas. Ser é estar livre. A mesma ambição, se veste orgulho de que é, é um fardo, não nos orgulharíamos se compreendêssemos que é um cordel pelo qual nos puxam. Não: nem ligações connosco! Livres de nós como dos outros, contemplativos sem êxtase, pensadores sem conclusão, viveremos, libertos de Deus, o pequeno intervalo que a distracção dos algozes concede ao êxtase na parada. Temos amanhã tê-la-iamos depois de amanhã...Senti tudo de repente. E a minha alegria manifesta-se por este gesto da raiva que não sinto."