Resto 221

" A alma humana é vítima tão inevitável da dor que sofre a dor da surpresa dolorosa mesmo com o que devia esperar...Tal outro, que tem tudo por oco e vazio, sentirá como um raio súbito a descoberta de que têm por nada o que escreve, de que é estéril o seu esforço por ensinar, de que é falsa a comunicabilidade da sua emoção...Nada tem a sinceridade da afirmação inteligente com a naturalidade da emoção espontânea. E isto parece poder ser assim, a alma parece poder ter assim surpresas, só para que a dor lhe não falte, o opróbrio não deixa de lhe caber, a mágoa não lhe escasseie como quinhão igualitário na vida. Todos somos iguais na capacidade para o erro e para o sfrimento. Só não passa quem não sente; e os mais altos, os mais nobres, os mais previdentes, são os que vêm passar e a sofrer do que previam e do que desdenhavam. É a isto que se chama a Vida."