" Envelheci pelas sensações...Gastei-me gerando os pensamentos...E a minha vida passou a ser uma febre metafísica, sempre descobrindo sentidos ocultos nas coisas, brincando com o fogo das analogias misteriosas, procrastinando a lucidez integral, a síntese normal para se denegrir...
Caí numa complexa indisciplina cerebral, cheia de indiferenças. Onde me refugiei? Tenho a impressão de que não me refugiei em parte nenhuma. Abandonei-me, mas não sei a quê.
Concentrei-me e limitei os meus desejos, para os poder requintar melhor. Para se chegar ao infinito, e julgo que se pode lá chegar, é preciso termos um porto, um só, firme e partir dali para indefinido.
Hoje sou ascético na minha religião de mim. Uma chávena de café. um cigarro e os meus sonhos substituem bem o universo e as suas estrelas, o trabalho, o amor, até a beleza e a glória. Não tenho quase necessidade de estímulos. Ópio tenho-o eu na alma.
Que sonhos tenho? Não sei. Forcei-me por chegar a um ponto onde nem saiba já em que penso, com que sonho, o que visiono. Parece-me que sonho cada vez mais longe, que cada vez mais sonho o vago, o impreciso, o invisionávél.
Não faço teorias a respeito da vida. Se ela é boa ou má não sei, não penso. Para os meus olhos é dura e triste, com sonhos deliciosos de permeio.
Que me importa o que ela é para os outros?
A vida dos outros só me serve para eu lhes viver, a cada um a vida que me parece que lhes convém no meu sonho."