Resto 169*

" Desde o princípio baço do dia quente e falso nuvens escuras e de contornos mal rotos rondavam a cidade oprimida. Dos lados a que chamamos da barra, sucessivas e torvas, essas nuvens sobrepunham-se, e uma antecipação de tragédia estendia-se com elas do indefinido rancor das ruas contra o sol alterado.
Era meio-dia e já na saída para o almoço, pesava uma esperança má na atmosfera empalecida. Farrapos de nuvens esfarrapadas na dianteira dela. O céu, para os lados do Castelo, era limpo mas de um mau azul. Havia sol mas não apetecia gozá-lo.
À uma hora e meia da tarde, quando se regressara ao escritório, parecia mais limpo o céu, mas só para o lado antigo. Sobre os lados da barra estava de facto mais descoberto. De sobre a parte norte da cidade,porém,as nuvens conjugavam-se lentamente numa nuvem só - negra, implacável, avançando lentamente com garras rombas de branco cinzento na ponta de braços negros. Dentro de pouco atingiria o sol, e os ruídos da cidade parece que se abafavam com o esperá-la. Era, ou parecia, um pouco mais límpido o céu para os lados de leste, mas o calor fazia mais desagrado. Suava-se na sombra da sala grande do escritório. «Vem aí uma grande trovoada», disse o Moreira, e voltou a página da Razão."