Resto 156/b

"A escravatura é a lei da vida, e não há outra lei, porque esta tem de cumprir-se, sem revolta possível nem refúgio que achar. Uns nascem escravos, outros tornam-se escravos, e a outros a escravidão é dada. O amor cobarde que todos temos à liberdade - que, se a tivéssemos, estranharíamos, por nova, repudiando-a - é o verdadeiro sinal do peso da nossa escravidão. Eu mesmo, que acabo de dizer que desejaria a cabana ou a caverna onde estivesse livre da monotonia de tudo, que é de mim, ousaria eu partir para essa cabana ou caverna, sabendo, por conhecimento, que, pois que a monotonia é de mim, a haveria sempre de ter comigo?...Tudo o que nos cerca se torna parte de nós, se nos infiltra na sensação da carne e da vida,e, baba da grande Aranha, nos liga sutilmente ao que está perto, enenleando-nos num leito leve de morte lenta, onde baloiçamos ao vento.Tudo é nós, e nós somos tudo; mas de que serve isto, se tudo é nada? Um raio de sol, uma nuvem que a sombra súbita diz que passa, uma brisa que se ergue, o silêncio que se segue quando ela cessa, um rosto ou outro, algumas vozes, o riso casual entre elas que falam , e depois a noite onde emergem sem sentido os hieróglifos quebrados das estrela."