" Sim, vejo nitidamente, com clareza com que os relâmpagos da razão destacam do negrume da vida os objectos próximos que no-la formam, o que há de vil, de lasso, de deixado e factício, nesta Rua dos Douradores que me é a vida inteira ... este escritório...este quarto mensalmente alugado onde nada acontece senão viver um morto...esta repetição pegada das mesmas prsonagens, como um drama que consiste apenas no cenário, e o cenário estivesse às avessas...
Mas vejo também que fugir a isto seria ou dominá-lo ou repudiá-lo, e eu nem o domino, porque o não excedo adentro do real, nem o repudio, sonhe o que sonhe, fico sempre onde estou.
E o sonho, a vergonha de fugir para mim, a cobardia de ter como vida aquele lixo da alma que os outros têm só no sono,na figura da morte com que resonam,na calma com que parecem vegetais progredidos!
Não poder ter um gesto nobre que não seja de portas adentro, nem um desejo inútil que não seja deveras inútil!