Resto192/c

" ...Não tenho saudades senão literariamente. Lembro-me da minha infância com lágrimas, mas são lágrimas rítmicas, onde já se prepara a prosa. Lembro-a como uma coisa externa e através de coisas externas; lembro só coisas externas...Nunca amei ninguém. O mais que tenho amado são as sensações minhas - estados da visualidade consciente, impressões da audição desperta, perfumes que são uma maneira de a humilde do mundo externo falar comigo, dizer-me coisas do passado ( tão fácil de lembrar pelos cheiros) -, isto é, de me darem mais realidade, mais emoção, que o o simples pão a cozer lá dentro na padaria funda, como naquela tarde longínqua...É esta a minha moral, ou a minha metafísica, ou eu; Transeunte de tudo - até de minha própria alma -, não pertenço a nada, não desejo nada, não sou nada - centro abstracto de sensações impessoais, espelho caído sentiente virado para a variedade do mundo. Com isto, não sei se sou feliz ou infeliz; nem me importa."