"Sábio, é quem monotoniza a existência, pois então cada pequeno incidente tem o privilégio da maravilha. Para o meu cozinheiro monótono uma cena de bofetada na rua tem sempre qualquer coisa de apocalipse modesto. Quem nunca saiu de Lisboa viaja no infinito no carro até Benfica, e, se um dia vai a Sintra, sente que viajou até Marte. O viajante que percorreu toda a Terra não encontra de cinco mil milhas em diante novidade...Um homem pode, se tiver a verdadeira sabedoria, gozar o espectáculo inteiro do mundo numa cadeira, sem saber ler sem falar com alguém, só com o uso dos sentidos e a alma não saber ser triste.
Monotonizar a existência, para que ela não seja monótona. Tornar anódino o quotidiano, para que a mais pequena coisa seja uma distracção"