"É tão magno o tédio, tão soberano o horror de estar vivo, que não concebo que coisas haja que pudesse servir de lenitivo, de antídoto, de bálsamo ou esquecimento para ele. Dormir horroriza-me como tudo. Morrer horroriza-me como tudo. Ir e parar são a mesma coisa impossível. Esperar e descrer equivalem-se em frio e cinza. Sou uma prateleira de frascos vazios.
Contudo que saudade do futuro, se deixo os olhos receber a saudação morta do dia iluminado que finda! Que grande enterro de esperança vai pela calada doirada ainda dos céus inertes, que cortejo de vácuos e nadas se espalha a azul rubro que vai ser pálido pelas vastas planícies do espaço alvar!
Não sei o que quero ou o que não quero. Deixei de saber querer, de saber como se quer, de saber as emoções ou os pensamentos com que ordináriamente se conhece que estamos qurendo, ou querendo querer. Não sei quem sou ou o que sou. Como alguém suterrado sobre um muro que se desmorenasse, jazo sobre a vacuidade tombada do universo inteiro. E assim vou, na esteira de mim mesmo, até que a noite entre e um pouco do afago de ser diferente ondule, como uma brisa,pelo começo da minha impaciência de mim.
Ah, e a lua alta e maior destas noites plácidas, mornas de angústia e desassossego! A paz sinistra da beleza celeste, ironia fria do ar quente, azul negro enevoado de luar e tímido de estrelas."