Resto 406/b

"Uma grande alegria, cheia de repouso e de livração, desconcertou-nos a todos. Trabalhamos meio tontos, agradáveis, sociáveis com uma profusão natural. O moço, sem que ninguém lho dissesse, abriu amplas as janelas. Um cheiro a qualquer coisa fresca entrou, com o ar de água, pela grande sala adentro. A chuva, já leve, caía humilde. Os sons da rua, que continuavam os mesmos, eram diferentes. Ouvia-se a voz dos carroceiros, e eram realmente gente. Nitidamente, na rua ao lado, as campainhas dos elétricos tinham também uma socialidade connosco. Uma gargalhada de criança deserta fez de canário na atmosfera limpa.
A chuva leve decresceu.
Eram seis horas. Fechava-se o escritório. O patrão Vasques disse, do guarda-vento entreaberto, “Podem sair”, e disse-o como uma bênção comercial. Levantei-me logo, fechei o livro e guardei-o. Pus a caneta visivelmente sobre a depressão do tinteiro, e, avançando para o Moreira, disse-lhe um “até amanhã” cheio de esperança, e apertei-lhe a mão como depois de um grande favor.