"Vi e ouvi ontem um grande homem. Não quer dizer um grande homem atribuído, mas um grande homem que verdadeiramente o é. Tem valia (...) O aspecto físico é de um comerciante cansado.Os gestos são quaisquer. O olhar tem uma certa viveza (...) A voz um pouco embrulhada, como se os indícios da paralisia geral estragassem essa emissão da alma (...) Se eu soubesse quem ele é, não o conheceria pela estampa(...) Sei bem que as coisas são humanidades naturais e absurdas. Mas, se não se espera tudo ou quase tudo, espera-se todavia alguma coisa. E, quando se passa da figura vista para a alma falada, não há sem dúvida que esperar espírito ou vivacidade, mas ao menos que contar com a inteligência, com, ao menos, a sombra da elevação. Tudo isto - estas desilusões humanas - nos faz pensar no que pode realmente haver de verdade no conceito vulgar de inspiração. Parece que este corpo destinado a comerciante e esta alma destinada a homem educado são, quando estão a sós, investidos misteriosamente de qualquer coisa interior que lhes é externa, e que falam, senão que se fala neles, e a voz diz o que fora mentira que eles dissessem.
São especulações casuais inúteis. Chego a ter pena de as ter. Não diminui com elas a valia do homem; não aumenta com elas a expressão do seu corpo. Mas, na verdade, nada altera nada, e o que dizemos ou fazemos roça só os cimos dos montes, em cujos vales dormem as coisas."