Resto 128/a

" Acontece-me às vezes, e sempre que acontece é quase de repente, surgir-me no meio das sensações um cansaço tão terrivel da vida que não há sequer hipótese de acto com que dominá-lo...É um cansaço que ambiciona, não o deixar de existir- o que pode ser ou pode não ser possível -, mas uma coisa muito mais horrorosa e profunda, o deixar de sequer ter exitido, o que não há maneira de poder ser...me creio o primeiro a entregar a palavras o absurdo sinistro desta sensação sem remédio. E curo-a com o escrevê-la. Sim, não há desolação, se é profunda deveras, desde que não seja puro sentimento, mas nela participe a inteligência,para que não haja o remédio irónico de a dizer.. Quando a literatura não tivesse outra utilidade, esta, embora para poucos, teria."